sábado, 11 de outubro de 2008

Quem são os nossos professores

A PROFESSORA QUE SE APAIXONOU PELO ATLETISMO

Conceição Oliveira

Ainda hoje, volvidos uns bons pares de anos em que decidiu colocar um ponto final numa carreira muito mais que promissora, no atletismo, para se dedicar a cem por cento, aos estudos que lhe permitiriam concluir com aproveitamento, o Curso de Educação Física, Conceição Pernes, a rapariga que nascera na Chamusca, mas viera menina e moça com os pais, para Lisboa, confessa que o atletismo foi mesmo uma grande paixão:
"Na realidade, para alem do grande prazer que tinha em correr e em representar um clube como Os Belenenses, havia entre todos nos, um bem salutar espírito de camaradagem, ainda mais enraizado pelo técnico, o professor Rui Mingas, curiosamente, mais tarde, o meu padrinho de casamento. Tanto ele, como os restantes técnicos, os professores Fonseca e Costa e Eduardo Cunha, tratavam as raparigas do Belenenses de uma forma quase paternal, incentivando-nos, não só como atletas, mas sobretudo, como jovens que tinham outros objectivos em vista."
Para Conceição Pernes, "se a prática do atletismo e o desejo de elevar sempre bem alto o prestigioso nome do Belenenses, o problema do futuro de todas as atletas fora das pistas, era frequentemente equacionado e analisado."
Enquanto lembra que, dos seus tempos dos "azuis" do Restelo, Maria do Céu Ferreira acabou por se formar em Medicina, enquanto Maria Manuel Coelho, também concluiu o Curso de Educação Física, Conceição Pernes adianta "talvez tivesse possibilidade de ter ido mais longe no atletismo, mas, como disse, havia que tratar da vida e fui isso que fiz. Mesmo assim, ainda joguei voleibol na equipa da Escola Josefa de Óbidos e fiz parte de uma excelente classe de ginástica de jazz, dirigida pela professora Maria Amélia Elias."
Campeã nacional, aos 18 anos, nos 200 metros barreiras e na estafeta 4xl00 m" ao mesmo tempo que conseguia, no pentatlo, 2.000 pontes, Conceição Pernes e as outras meninas do atletismo do Belenenses - Zé Sobral, Céu Ferreira, Manuela Pardal, Marília Carvalho e Manuela Coelho - bem depressa se tornaram um dos pólos de atracção dos dedicados adeptos do clube de Cruz de Cristo que viam nelas as dignas sucessoras de Georgete Duarte, uma das mais emblemática legendas da colectividade de Artur José Pereira, de Pepe, Augusto Silva, Mariano Amaro, Acácio Rosa e Matateu e de tantas outras hist6ricas figuras do prestigioso Clube de Futebol ''as Belenenses".
Mas, se nas pistas do atletismo, Conceição Pernes e o seu jeito azougado, tanto impressionavam, fora delas, também a rapariga que nascera na Chamusca e ai se desloca com alguma frequência, acabava por ser terra de notícia, tal como a descreve Acácio Rosa, no Segundo volume "CF ''as Belenenses", com o antigo presidente dos azuis a referir uma reportagem, da autoria do jornalista Alexandre Pais, inserida no "Diário de Lisboa", antes do titulo "Campeã Azul vende bordados na Primavera" e onde se acentua a forma determinada como Conceição Pernes, fazia pela vida, na tentativa de arranjar verbal que ajudassem o atletismo e a ginástica, modalidades onde os dinheiros estão bem longe de abundar.

Acaba a atleta, nasce a senhora professora
"Foi isso. Com bastante pena minha, tive mesmo de colocar um ponto final na minha actividade como atleta do Belenenses, ate porque, cada dia que passava, aumentavam as exigências. Já havia concluído o curso da EIEF e havia que ir à procura de trabalho, o que acabei por conseguir; efectivando-me numa escola de Porto de Mós", diz-nos, ao mesmo tempo que adianta situações que atestam bem da capacidade e do jeito genicoso, daquela que foi sobrinha de uma das figuras da Chamusca, o Caixa do Café", logo e entrada do lado esquerdo da Vila Branca, para quem vem de Santarém.
Assim, conta que esteve seis anos como professora das classes de ginástica do Benfica, na altura coordenadas par Joaquim Granjer, tal como trabalhou durante dois anos no Sporting, com Reis Pinto como o homem-forte da ginástica dos leões, enquanto permaneceu quatro temporadas na ginástica do INATEL, pois, como sempre acentua "nunca se pode estar de braços cruzados e hera mesmo que seguir em frente."
Mesmo sem se mostrar saudosista, recorda "nos meus tempos, havia excelentes praticantes no nosso atletismo feminino e nomes como os da Manuela Simões, da Zé Sobral, da Adília Silvério e ate da Fátima Mates Fernandes, para além de outras, poderiam ter ido ate bem mais longe, caso desfrutassem de melhores condições de treino ou tivessem apenas o atletismo como o objectivo das suas vidas. Eu própria, tal como vezes sem conta, o professor Rui Mingas, o recordava, dispunha de faculdades para conseguir outras marcas nos 100 metros barreiras e na estafeta 4x100 metros. Mas, a verdade é que o atletismo era bonito, o Belenenses um clube excelente, que nos oferecia tudo o que era possível, mas, em Portugal, pelo menos naquela altura, ninguém vivia só do atletismo,"
Casada com um engenheiro, mãe de dois filhos que já passaram a casa dos vinte anos, antigos ginastas no Sporting e ambos amantes de desportos como a natação e "surf", Conceição Pernes mantém regulares contactos quer com as raparigas do atletismo do seu tempo, quer com os técnicos, muito especialmente com o padrinho Rui Mingas que, sempre que viaja de Luanda ate Lisboa, marca encontro com a família, para recordarem os tempos em que o antigo atleta do Benfica e recordista do salto em altura - "roubado" ao velho Guilherme Espírito Santo - e também antigo homem das musicas e, mais tarde, técnico dos azuis do Restelo, exigia rigor, disciplina e ambição as meninas de Belém.


in: Ribatejo Terra de Campeões ( Conceição Pernes / Conceição Oliveira ) - 1892-2008, Carlos Arsénio, edições Cosmos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ilustrando o nosso emblema
consagrado e popular
essa cruz que foi o tema
das conquistas além mar

Hoje como antigamente
nada temos que temer
belenenses para a frente
com certeza pra vencer.

Obrigada São por elevares o Belém...
...é sempre um prazer privar contigo...