
No meu tempo do velho liceu normal de Pedro Nunes os professores de Educação Física eram quase sempre gente acéfala, disponíveis para exigir uns saltos de plinto e umas corridas à volta do ginásio, sem qualquer critério ou exigência de qualidade. Os mais hábeis fisicamente cumpriam o ritual com gosto, os mais desajeitados arrastavam penosamente os rabos pesados em exercícios inacessíveis, incitados por berros críticos dos mestres e piadas rasteiras dos colegas. Nos balneários, a água gelada dificultava o banho de muitos e a timidez de alguns era notada, quando tirávamos a roupa de ginástica e regressávamos ao nosso traje habitual. Não tenho memória de algum colega especialmente dotado para a prática desportiva, porventura descoberto naquelas insípidas aulas. Lembro um professor arrogante, conhecido pelas repetidas pancadas com os nós dos dedos sobre as nossas cabeças indefesas e que por isso recebeu a alcunha de ‘Sargento dos carolos”, recordo outro senhor estranhamente barrigudo para a sua especialidade e que se limitava a utilizar criteriosamente o apito para ritmar uns exercícios sem sentido, não esqueço ainda outro docente de Educação Física que falava connosco e de certa forma atenuava o discurso culpabilizante sobre o nosso corpo, que o Padre de Religião e Moral semanalmente debitava sem cessar.
Quando os meus filhos andaram nas suas Escolas Básicas e Secundárias notei grandes melhorias. Os professores de Educação Física conheciam os alunos individualmente e preocupavam se com coisas importantes, como a coordenação psico-motora, a lateralidade e a noção de imagem corporal. Sobretudo, verificavam a integração do aluno no grupo juvenil, promoviam torneios que ajudavam a que muitos alunos não deixassem de vez outras disciplinas sem sentido para muitos jovens actuais. Um dos meus filhos estava um pouco perplexo com uns gritos que o professor de Educação Física soltava qualquer coisa como “Iaaanebaa”! no intervalo dos exercícios. Com uma pressa pouco habitual para a época e infelizmente normal em muitos pais de hoje, fui lá perguntar o que aquilo queria dizer. ‘Uns simples gritos de incitamento, caro senhor. Reparei que os entusiasmava assim. Olhe, já agora, treine o seu filho a agarrar mais rapidamente uma bola. Pode ajuda-lo a estar mais à vontade consigo próprio. Não acha que isso é importante na idade dele?” Foi uma boa lição para mim e uma aprendizagem importante para o meu filho.
Nos múltiplos contactos que tenho nas escolas, passei a ouvir, com redobrada atenção, tudo o que os Professores de Educação Física têm para dizer. Conheci muitas situações em que a sua não intervenção levou a que muitos jovens abandonassem precocemente a escola, ou prolongassem perigosamente a experimentação de álcool e drogas. Quando escrevi o meu livro Voltei à escola, trabalhei com estagiários de Educação Física que foram dos docentes mais activos na promoção de novos projectos de integração de alunos-problema. Com um professor de Educação Física aprendi como tinha sido importante colocar um aluno turbulento e de maus resultados académicos a arbitrar um jogo de futebol, até esse momento em parte desorganizado pela sua inquietação e ausência de regras. Alguns docentes de Educação Física orgulham-se hoje de ter transformado rapazes e raparigas problemáticos em atletas de alta competição. Acima de tudo, sei bem que os novos professores desta disciplina compreendem como o corpo é quase sagrado na adolescência. Amado ou odiado, o corpo é objecto de uma permanente atenção por parte dos jovens de hoje. As transformações corporais que caracterizam a puberdade, o culto do corpo incentivado pela publicidade, as identificações com heróis do cinema e do desporto, a influência dos modelos a exibirem colecções dos estilistas, fornecem um contexto em que o corpo se torna central e onde os professores de Educação Física podem penetrar mais facilmente que outros docentes. Por outro lado, o gosto por comportamentos de risco de alguns jovens actuais pode ser canalizado para actividades na escola ou na cidade, com a coordenação de professores de Educação Física. Estou-me a lembrar de uma escola da província, onde uma jovem professora desta área, em colaboração com a autarquia, conseguiu para a escola uma parede de escalada, passando a existir menos fugas à escola e menos turbulência no pátio.
Por todas estas razões, tenho dificuldade em compreender a possibilidade anunciada de redução da carga horária da disciplina de Educação Física. Para mim fazia pelo contrário, muito mais sentido aumentá-la significativamente. Em culturas juvenis fortemente caracterizadas pelo lazer e pelo culto do corpo, a ginástica é um veículo fundamental para unir os jovens e promover a sua saúde. O desporto escolar não chega porque é só para alguns, para os mais motivados. A Educação Física não deixa ninguém de fora e, se o professor for atento, evita a exclusão e o elitismo. Já repararam como os ‘betos” e os “chungas” se unem num jogo futebol?
Certamente essa diminuição de carga horária não passará de um boato. Até lá, no entanto, é bom dizer: “Professores de Educação Física, uni-vos! Mais aulas de Educação Física “
Quando os meus filhos andaram nas suas Escolas Básicas e Secundárias notei grandes melhorias. Os professores de Educação Física conheciam os alunos individualmente e preocupavam se com coisas importantes, como a coordenação psico-motora, a lateralidade e a noção de imagem corporal. Sobretudo, verificavam a integração do aluno no grupo juvenil, promoviam torneios que ajudavam a que muitos alunos não deixassem de vez outras disciplinas sem sentido para muitos jovens actuais. Um dos meus filhos estava um pouco perplexo com uns gritos que o professor de Educação Física soltava qualquer coisa como “Iaaanebaa”! no intervalo dos exercícios. Com uma pressa pouco habitual para a época e infelizmente normal em muitos pais de hoje, fui lá perguntar o que aquilo queria dizer. ‘Uns simples gritos de incitamento, caro senhor. Reparei que os entusiasmava assim. Olhe, já agora, treine o seu filho a agarrar mais rapidamente uma bola. Pode ajuda-lo a estar mais à vontade consigo próprio. Não acha que isso é importante na idade dele?” Foi uma boa lição para mim e uma aprendizagem importante para o meu filho.
Nos múltiplos contactos que tenho nas escolas, passei a ouvir, com redobrada atenção, tudo o que os Professores de Educação Física têm para dizer. Conheci muitas situações em que a sua não intervenção levou a que muitos jovens abandonassem precocemente a escola, ou prolongassem perigosamente a experimentação de álcool e drogas. Quando escrevi o meu livro Voltei à escola, trabalhei com estagiários de Educação Física que foram dos docentes mais activos na promoção de novos projectos de integração de alunos-problema. Com um professor de Educação Física aprendi como tinha sido importante colocar um aluno turbulento e de maus resultados académicos a arbitrar um jogo de futebol, até esse momento em parte desorganizado pela sua inquietação e ausência de regras. Alguns docentes de Educação Física orgulham-se hoje de ter transformado rapazes e raparigas problemáticos em atletas de alta competição. Acima de tudo, sei bem que os novos professores desta disciplina compreendem como o corpo é quase sagrado na adolescência. Amado ou odiado, o corpo é objecto de uma permanente atenção por parte dos jovens de hoje. As transformações corporais que caracterizam a puberdade, o culto do corpo incentivado pela publicidade, as identificações com heróis do cinema e do desporto, a influência dos modelos a exibirem colecções dos estilistas, fornecem um contexto em que o corpo se torna central e onde os professores de Educação Física podem penetrar mais facilmente que outros docentes. Por outro lado, o gosto por comportamentos de risco de alguns jovens actuais pode ser canalizado para actividades na escola ou na cidade, com a coordenação de professores de Educação Física. Estou-me a lembrar de uma escola da província, onde uma jovem professora desta área, em colaboração com a autarquia, conseguiu para a escola uma parede de escalada, passando a existir menos fugas à escola e menos turbulência no pátio.
Por todas estas razões, tenho dificuldade em compreender a possibilidade anunciada de redução da carga horária da disciplina de Educação Física. Para mim fazia pelo contrário, muito mais sentido aumentá-la significativamente. Em culturas juvenis fortemente caracterizadas pelo lazer e pelo culto do corpo, a ginástica é um veículo fundamental para unir os jovens e promover a sua saúde. O desporto escolar não chega porque é só para alguns, para os mais motivados. A Educação Física não deixa ninguém de fora e, se o professor for atento, evita a exclusão e o elitismo. Já repararam como os ‘betos” e os “chungas” se unem num jogo futebol?
Certamente essa diminuição de carga horária não passará de um boato. Até lá, no entanto, é bom dizer: “Professores de Educação Física, uni-vos! Mais aulas de Educação Física “
in Notícias Magazine artigo de Daniel Sampaio
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